

Antes mesmo de completar o ensino médio, Manuela Buesa ganhou medalha de bronze na International Economics Olympiad (IEO), medalha de ouro na Olimpíada Brasileira de Economia (OBECON) e foi bicampeã do Troféu Menina Olímpica. É uma das criadoras do projeto Extracurriculando, que oferece a alunos da rede pública acesso a temas extracurriculares. Embora ainda não esteja na faculdade, Manu recebeu apoio da Sempre FEA por meio da OBECON e teve apoio direto de voluntários e doadores da Associação para estagiar no mercado financeiro e viajar para competições (saiba mais no box). Confira a trajetória dela nesta entrevista.

Como foi seu percurso escolar? Por que você começou a participar de competições?
Nasci em São Paulo, mas cursei do 1º ao 5º ano do ensino fundamental em Campos dos Goytacazes (RJ). Como no interior tudo é mais barato, pude estudar em uma escola privada bilíngue. Eu e a minha família voltamos para cá e segui meus estudos em uma escola com poucas oportunidades de fazer atividades extras não esportivas.
Perto do ensino médio, fiquei sabendo do Desafio Etapa. Estudei com meu irmão e consegui uma bolsa, que me abriu um leque de oportunidades enorme. Aproveitei tudo o que o Colégio Etapa tinha a oferecer. Se tinha aula avançada, eu estava lá! Entrei em olimpíadas de física, química, biologia e no EMUN (Etapa Model United Nations).
Conheci pessoas que queriam estudar no exterior. Elas eram muito engajadas em outras atividades e abriram um novo mundo para mim. No 1º ano do ensino médio, eu participei do meu primeiro campeonato de debate. Foi uma experiência muito importante para mim, em que comecei a entender que eu queria me envolver mais com questões sociais e internacionais.
Qual é sua motivação para estudar e participar de tantos torneios?
Minha mãe tinha muita paixão pelos estudos, mas acabou abrindo mão de muitos sonhos em nome de estabilidade para ela e para os seus filhos. Acho que ela foi a minha primeira inspiração, tanto pela sua história quanto pelo seu incentivo. Enquanto outras pessoas duvidavam do que eu poderia alcançar, minha mãe sempre foi a primeira pessoa a acreditar que eu conseguiria. Foi assim inclusive na OBECON.
Além disso, eu sempre me guiei por metas e sempre tive consciência de que queria estudar em uma boa faculdade.
Você termina o ensino médio este ano e decidiu cursar economia. Por que?
O que mais me atrai na economia é a descrição e esquematização de questões da vida real. Gosto bastante de entender que as questões socioeconômicas do Brasil, por exemplo, são consequência de diversos fatores históricos e atuais. Essa vontade de entender melhor o mundo me motivou a escolher economia como o meu curso.
Durante a OBECON, tive um exemplo que me mostrou a tangibilidade do que eu queria. A Sara Delfim (ingressante em Economia em 1993 e Associada da Sempre FEA) me inspirou a continuar buscando mais cenários econômicos para explorar, antes mesmo da faculdade.
Você ganhou medalha de ouro na OBECON e foi a mulher mais jovem a conquistar uma medalha na International Economic Olympiad (IEO). Como foi essa experiência?
A OBECON e o Rapha (Raphael Zimmermann, organizador do torneio) tiveram um impacto muito grande na minha vida. No fim da primeira OBECON em que participei, em 2023, eu e o Rapha marcamos um café, em que tivemos uma conversa sincera sobre a minha performance e possíveis próximos passos. Honestamente, eu tinha um pouco de dúvida sobre a minha habilidade em economia, então aquela conversa me ajudou a confiar mais em mim mesma.
Durante os treinamentos da equipe da OBECON, principalmente do Nícolas e do Cauê, eu aprendi ainda mais conceitos e teorias econômicas que foram muito importantes para fazer o meu ouro na OBECON se tornar um bronze na olimpíada internacional.


Além desses títulos, quais foram suas competições mais importantes?
Fui campeã do Open Brasil de Debates Universitários do Instituto Brasileiro de Debates e medalha de ouro em física na etapa do IYPT (International Young Physicists’ Tournament) no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica, em São José dos Campos).
Participei do campeonato internacional de debates (World Schools Debating Championships – WSDC) no Vietnã. Viajei para a Universidade de Oxford para a fase final da competição global de redação (John Locke Institute Global Essay Prize), onde recebi uma distinção.
Também participei e ganhei alguns prêmios em competições de economia e business case internacionais.
Como surgiu o Extracurriculando e como funciona seu projeto social?
Iniciei o projeto em 2022 com o intuito de democratizar o acesso à educação por meio de cursos online e gratuitos, com matérias além da Base Comum Curricular. Hoje temos impacto de mais de 6 mil alunos, selecionamos professores voluntários de todo o Brasil e outros países (temos uma professora de Portugal), e mais de 14 cursos diferentes para os alunos explorarem. Eu, inclusive, dou aula de economia, no curso Econoloucos, e já dei aula de filosofia em um ciclo passado.
(Saiba mais em @extracurriculando no Instagram e no canal do projeto no YouTube)
Como você interpreta sua trajetória até aqui e o que planeja para o futuro?
Acredito que a minha trajetória reflete a garra que eu tive, e que acredito que qualquer pessoa deve ter, para se desenvolver. Fiz isso em redação, economia e debate.
Sonho em estudar fora, provavelmente no Estados Unidos, e quero fazer um duplo bacharelado em economia e estudos internacionais, além de aprender mais línguas. Também vou prestar vestibular no Brasil, mas não é o meu foco principal. Depois da faculdade, penso em trabalhar com algo como private equity, mas ainda não tenho tanta certeza disso.

O APOIO DA SEMPRE FEA À OBECON
A Sempre FEA apoia a Olimpíada Brasileira de Economia desde 2021, com foco principalmente na ampliação da participação de alunos da rede pública e do sexo feminino no torneio, visando aumentar a representatividade desses grupos nas faculdades de economia e no mercado.
Este ano, foi atingida a paridade de gênero entre os inscritos e o número de estudantes mulheres dobrou na fase final da competição. No total, foram 20 mil inscritos e 40 finalistas, sendo 8 do sexo feminino. A equipe que seguiu para a etapa internacional também contou, pela segunda vez na história, com a presença de uma menina.
Além de proporcionar acesso a instrutores com vasta experiência no mercado financeiro, a Associação destinou R$ 11.500 à OBECON, ajudando a custear a viagem da equipe vencedora para a etapa internacional em Hong Kong.
