Fundo patrimonial de ex-alunos da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo já conta com 80 doadores
Nesta quinta-feira, a Sempre FEA, associação formada por ex-alunos, alunos e professores da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA-USP) irá anunciar os primeiros projetos a receberem recursos do endowment da instituição. Aberto para doações em maio deste ano, o fundo patrimonial da FEA já arrecadou mais de R$ 4 milhões de mais de 80 doadores. Entre eles, ex-alunos que trilharam uma trajetória de sucesso no mundo corporativo ou governo como Persio Arida, Guilherme Leal, Eduardo Vassimon e Cristiana Pipponzi.
O primeiro edital do endowment foi lançado em setembro e recebeu inscrições de 34 projetos. Do total, 26 passaram para a fase final de avaliação e de 15 a 20 serão escolhidos para receber R$ 200 mil no total. Segundo Andrea Andrezo, presidente da Sempre FEA, entre os inscritos há um projeto da Liga de Mercado Financeiro da FEA para criar uma simuladora de uma gestora de recursos, um projeto de um professor para lecionar uma disciplina nova, focada em estudos de caso envolvendo a temática ESG e um financiamento para o centro acadêmico adquirir livros de atuária para a biblioteca.
Há também iniciativas para a implementação de aulas de reforço (matemática, inglês e português) e de apoio a alunos que desejam se tornar atletas. Esses exemplos refletem não só novas necessidades internas da instituição, mas também a mudança de perfil que a FEA vivencia. “Hoje a faculdade tem 3 mil alunos, sendo 450 novos na graduação.
Mas desde 2018 o perfil vem mudando devido às ações afirmativas: 37% dos cotistas são pretos, pardos e indígenas. Neste ano, 50% dos ingressantes serão oriundos de escolas públicas”, diz Andrea. Diante dessa mudança, um dos focos de atuação da Sempre FEA e da alocação de recursos do endowment será a diversidade e inclusão.
Além disso, a associação irá selecionar projetos que gerem impacto para sociedade, fomentem a cultura do empreendedorismo, apoiem núcleos de pesquisa que têm carência de recursos ou alavanquem a competitividade dos alunos.
A estruturação do endowment da faculdade começou em 2019, por iniciativa de quatro ex-alunos. Alguns estudaram e moraram no exterior, onde acompanharam o “impacto positivo” dos endowments americanos como fonte de recursos perene para projetos da comunidade de alunos e que impactam diretamente a sociedade, segundo Andrea. Harvard, Yale e Stanford somavam em 2019, respectivamente, US$ 40,9 bilhões, US$ 30,3 bilhões e US$ 27,7 bilhões de patrimônio, segundos dados do National Association Of College And University Business Officers. No Brasil, a criação da Sempre FEA foi inspirada no “Amigos da Poli”, fundo da Escola Politécnica da USP que possui mais de R$ 33 milhões de patrimônio e, na última década, apoiou mais de 150 projetos e soma 4,5 mil doadores.
No Brasil, os fundos patrimoniais ganharam um impulso em 2019, quando foram regulamentados pela Lei nº. 13.800. Instituições como Unicamp, PUC-Rio e Unesp criaram os seus recentemente. Andrea acredita que a legislação contribuiu para dar visibilidade a essa cultura de doações e que o fato do endowment ser um “fundo perene de recursos”, com “visão de longo prazo e não suscetível a queda de arrecadações federais ou decisões de governo”, gera a segurança para as doações.
“Hoje a Sempre FEA possui 26 grandes doadores, mas há um desejo comum a todos de retribuírem o que receberam da faculdade pública e gerar um legado para essa e as próximas gerações”. Na visão de Andrea, o que motivou tantas doações este ano, diante da crise e no meio de uma pandemia, é o “sentimento cada vez mais forte na sociedade de que não dá para esperar o governo resolver todos os problemas”. “A pandemia também contribuiu para o desejo de muita gente atuar de forma mais protagonista na resolução de problemas e da desigualdade, seja como doador ou como voluntário”. Cerca de 200 profissionais, entre alunos, ex-alunos, executivos, empresários e professores, atuam como voluntários da Sempre FEA.
Independente da faculdade, o fundo é auditado pela PwC e funciona com estrutura de governança própria, com conselho de administração comandado por Vassimon e o consultivo por Arida. A Sempre FEA também desenvolverá projetos próprios, em parceria com empresas, que incluem a criação de um centro de carreiras. O objetivo é oferecer aconselhamento profissional, trilhas de aprendizado para o ensino de novas habilidades e um programa de mentoria. “Queremos promover networking e troca de experiências entre a rede de ex-alunos que montamos com o endowment e os alunos. Algo que é ainda mais relevante no contexto dos alunos cotistas, que muitas vezes não têm com quem conversar sobre diferentes carreiras ou sobre como entrar em determinado mercado”.
Reprodução da matéria realizada por Por Barbara Bigarelli para o Valor Econômico em 10/12/2020. Fonte: https://valor.globo.com/carreira/noticia/2020/12/10/endowment-da-fea-levanta-r-4-mi-e-anuncia-projetos.ghtml