
Antes mesmo de cofundar a Sempre FEA, Bruno Bose do Amaral (ingressante em Economia em 1999) já era um ex-aluno que contribuía ativamente na faculdade. Seu vínculo foi forjado por uma vivência plena do ambiente universitário, que se tornou a “casa” de um jovem recém-chegado a São Paulo. Nesta entrevista, ele fala sobre seu envolvimento de longa data como alumni e sua trajetória pessoal e profissional.
Como você tomou a decisão de cursar economia?
Nasci em Goiânia e fiquei lá até completar o ensino médio. Meu pai tinha uma revenda de autopeças e minha mãe é pediatra. Por essa vivência familiar, os negócios e a medicina naturalmente me interessavam. Chegando perto do vestibular, fui balançando de um lado para o outro. Mas tive a oportunidade de fazer um intercâmbio em Indiana (EUA) onde cursei uma disciplina de economia no high school. Isso aconteceu simultaneamente ao surgimento da internet e, pela primeira vez, tive informações sobre ações e bolsas de valores disponíveis em tempo real. Me apaixonei por este mundo.
Voltei para o Brasil de cabeça feita. E queria ir para São Paulo porque era o centro dos negócios. Prestei FEA e FGV, mas rapidamente aprendi minha primeira lição em economia: a restrição orçamentária se impôs e entendi que minha única possibilidade de viver em São Paulo seria cursando uma universidade pública. Olhando para trás, eu não poderia ter feito escolha melhor.
Como foi sua chegada à FEA?
Era tudo uma grande descoberta para mim. Me mudei para São Paulo no domingo anterior ao início das aulas, na segunda-feira. Eu não conhecia ninguém e logo me juntei ao grupo de pessoas que também não eram de São Paulo. Como estava chegando aqui sem amigos ou família, tentei me conectar com o mundo FEA da forma mais rápida e plena possível. Já na Semana dos Bixos, me apaixonei por aquele mundo da USP e da FEA. Foi uma experiência fantástica em todos os sentidos.
Desde o primeiro momento busquei me envolver com as entidades. Consegui entrar na FEA Júnior no primeiro ano. Na Atlética, fui diretor da natação e no segundo ano fui diretor de esportes individuais. Além da natação, fiz parte do primeiro time de rugby da FEA. Eu passava o dia todo lá — de manhã estudando e de tarde vivendo aquele mundo o máximo que eu pude durante o primeiro ano.
No segundo ano, precisei começar a trabalhar para conseguir bancar as despesas de morar em São Paulo. Fui atrás de um estágio e consegui entrar no então Banco Paribas, na área de corporate finance. Eu não fazia ideia do que essa área do banco fazia, mas tinha muito interesse em aprender rápido e precisava do emprego. Assim eu entrei no mercado financeiro e pude me manter em São Paulo.

Como foi sua trajetória profissional?
Caí de paraquedas, mas em uma carreira que encaixou perfeitamente com o que eu sonhava quando ainda morava em Goiânia. Desde o meu primeiro emprego há 25 anos até hoje, faço praticamente a mesma coisa: assessoria para fusões e aquisições (M&A) na área de investment banking/corporate finance dos bancos onde trabalhei.
Comecei no Paribas como estagiário e, como o time era pequeno e ninguém tinha tempo para me ensinar, durante as férias da faculdade fui enviado para o escritório de Paris para aprender valuation. Foi uma experiência incrível bem cedo na carreira.
Dois anos depois, em 2002, um colega da faculdade me chamou para uma oportunidade na Salomon Smith Barney. Nessa época tive a experiência de passar uma temporada de seis meses em Nova York e conhecer de perto o que era trabalhar em Wall Street, no coração do mercado financeiro global. Fiquei até 2005, quando meu então chefe na Salomon foi para o Credit Suisse e me convidou para ir para lá. Foi uma decisão muito acertada porque o mercado de capitais no Brasil decolou naquela época, e o Credit Suisse foi muito atuante nesse ambiente.
Após o crash de 2008, me ligaram para falar de um projeto novo chamado BTG, tocado pelos antigos sócios do Banco Pactual, que tinha sido vendido para o UBS. Havia uma equipe de cerca de 30 pessoas que já faziam operações de hedge fund e private equity, mas minha entrada (junto com alguns colegas) buscava reconstruir no BTG uma equipe de investment banking. Praticamente duas semanas após minha entrada surgiu para o BTG a oportunidade de recomprar o Pactual, o que resultou no que hoje é o BTG Pactual, onde tive a oportunidade e o privilégio de crescer como sócio ao longo dos últimos 15 anos.

O que te agrada tanto na área de M&A?
Cada dia traz um aprendizado novo e uma reinvenção do que é preciso fazer para ser bem-sucedido. Cada projeto é diferente do outro, cada aquisição tem sua história, seu conjunto de características distintas. Posso assessorar uma multinacional, uma família, uma companhia em dificuldades que precisa vender ativos ou uma empresa com uma estratégia de consolidação do mercado. Todos têm sua beleza e seus desafios. Não tem dia chato aqui.
Também faço coisas interessantes nos mais variados setores. Um dia no setor elétrico, outro no setor de saúde, consumo e varejo, e por aí vai. Neste momento, por exemplo, estou envolvido em projetos ligados ao futebol, uma nova fronteira para negócios de investment banking. Queremos estruturar a liga de futebol do Brasil e trazer investidores para os clubes, concretizando essa mudança de patamar do esporte no país.
Você tem um empenho de longa data como ex-aluno da FEAUSP, até antes de participar da fundação da Sempre FEA. Como sua relação com a faculdade se manteve e evoluiu ao longo do tempo?
Eu sempre tive o desejo de manter uma conexão permanente. A FEA me acolheu como se fosse a minha segunda casa. Como tive um envolvimento muito grande com as entidades e o mundo da FEA como um todo, tinha amizades com pessoas que continuaram tocando projetos lá dentro e que se tornaram perenes. Por exemplo, foi na minha época de estudante que foram criados o Cursinho e a TOFU (Torcida Organizada FEAUSP).
Paralelamente, no trabalho eu convivia com colegas que tinham feito MBA no exterior e falavam dos eventos de alumni, de doações em campanhas direcionadas a suas respectivas turmas. Eu achava um absurdo a gente não ter mecanismos similares para mantermos a conexão com a nossa faculdade, particularmente por ter sido gratuita. E no meu caso, eu não teria cursado se não fosse gratuita.
Oportunamente surgiu o projeto para construção da escultura da Tomie Ohtake, a primeira iniciativa da FEA de captação de recursos com antigos alunos. Wagner Cassimiro (ingressante em Administração em 2000), que eu conhecia da época de aluno da FEA, me convidou para ajudar, e eu passei a ajudar tanto na captação junto a pessoas físicas quanto em conversas com o Credit Suisse, para doação como pessoa jurídica dentro da Lei Rouanet.
Naquele primeiro projeto, atraímos mais de 300 doadores e percebi que outros antigos alunos partilhavam um sentimento que precisava ser melhor trabalhado. Com o sucesso dessa campanha, o Wagner me convidou para ajudar no próximo projeto, que seria uma captação de recursos para auxiliar na reforma da biblioteca. Em seguida, fui um dos doadores instituidores do fundo patrimonial que surgiu dentro da FEA em 2014 e participei do primeiro conselho curador.
Em outubro de 2019, em um almoço com Andrea F. Andrezo (ingressante em Contabilidade em 1994), Eduardo Vassimon (ingressante em Economia em 1977) e Alessandro Anastasi (ingressante em Economia em 1995), conversamos sobre como poderíamos ser mais efetivos em engajarmos nossa comunidade em prol de um modelo de endowment, e que para isso era necessário que os próprios antigos alunos assumissem um maior protagonismo. Dessa conversa, e inspirados pelo modelo já então muito bem-sucedido do Amigos da Poli, saiu a decisão de criarmos a Associação que hoje é a Sempre FEA.
O lançamento da Associação, no início de 2020, coincidiu com a chegada da pandemia. Qual é sua maior lembrança desse começo?
Naquele ambiente completamente incerto e caótico no mundo, mesmo com as pessoas preocupadas com seus familiares, sua saúde, seu trabalho e tudo o que estava acontecendo, elas conseguiram reunir atenção, dedicação e boa vontade para que nós conseguíssemos crescer e sermos tão bem-sucedidos tão rapidamente.
Qual tem sido seu papel na associação?
Fui um dos primeiros Associados e me comprometi a apoiar a Andrea, que disponibilizou seu tempo e energia de forma integral nesses primeiros anos da Associação. Integrei o Conselho de Administração e faço um esforço constante de promoção da Sempre FEA em busca de novos doadores e voluntários.
No meu trabalho, constantemente procuro uma brecha para encaixar a Sempre FEA nas discussões. Fiz a ponte entre o BTG Pactual e o Centro de Carreiras da Associação. O banco foi anfitrião da cerimônia final da Olimpíada Brasileira de Economia (OBECON) —um dos projetos apoiados pela Sempre FEA— e contribui financeiramente para a ida dos finalistas à etapa de disputa internacional.
O que você sonha para nossa faculdade no futuro?
Eu espero que todo mundo que passa por lá tenha esse sentimento de conexão eterna. Que cada FEAno seja um FEAno para sempre. Espero olhar para trás daqui a 40 ou 50 anos e ter muito orgulho de ter sido uma das pessoas que ajudaram a dar esse primeiro passo.