
Entrevista com eduardo vassimon
Eduardo Vassimon (ingressante em Economia em 1977) encerra seu ciclo como Presidente do Conselho de Administração da Sempre FEA. Nesta entrevista, ele fala de sua época de estudante na FEAUSP, de sua trajetória profissional e da construção e do futuro da nossa Associação.

Como começou sua história com a FEA?
Desde adolescente eu quis entender como o mundo funciona e isso passa obrigatoriamente por economia. Sempre gostei de matemática e acabei fazendo o curso diurno de Administração na FGV e de noite cursava Economia na USP. Tive professores ótimos e muito estimulantes intelectualmente.
Embora não houvesse a diversidade que temos hoje, um grande fator positivo da FEA foi entrar em contato com um mundo diferente do ponto de vista cultural e humano, sobretudo naquele momento político tenso que o Brasil enfrentava.
Como foi sua trajetória profissional dentro e fora do setor privado?
Entrei como estagiário em 1980 e durante quase 40 anos trabalhei no Itaú Unibanco ou em bancos que acabaram fazendo parte do grupo. Fiz um pouco de tudo no mercado financeiro. Em 2019, iniciei a segunda fase da minha carreira, como conselheiro de empresas como B3 e Totvs. Há cinco anos sou Presidente do Conselho da Votorantim S.A.
Também fui diretor da Fundação Itaú e estou bastante envolvido com iniciativas do terceiro setor, participando dos conselhos de entidades como MASP, Todos Pela Educação, o Instituto Acaia de atividades socioeducativas no contraturno escolar, e o Instituto Rodrigo Mendes, focado em educação inclusiva para pessoas com deficiência.
Apoio financeiramente outras entidades que atuam nas vertentes de educação (EnsinaBR, Instituto Sol, Amigos da Poli), renovação política (Centro de Liderança Pública – CLP, RenovaBR, Rede de Ação Política pela Sustentabilidade – RAPS, LIVRES), cultura (Osesp) e saúde (ACTC Casa do Coração, que atende crianças e adolescentes cardiopatas e transplantados).

Como surgiu a Sempre FEA?
Sinto uma obrigação moral de devolver à sociedade o privilégio e a sorte que tive ao longo da vida e sempre foquei na área de educação. Às vezes a forma de contribuir é com doação de recursos, mas também com tempo. É um privilégio muito grande estudar sem custo em uma instituição de alta qualidade.
Minha vontade era grande, mas precisava de um canal. Isso mudou em um almoço no final de 2019 com outros três ex-alunos — Andrea Andrezo (ingressante em Contabilidade em 1994), Bruno Amaral (ingressante em Economia em 1999) e Alessandro Anastasi (ingressante em Economia em 1995) — em que conversamos sobre formas de ajudar e concluímos que deveríamos criar do zero uma entidade na qual os doadores tivessem protagonismo. Nosso exemplo de sucesso e maior inspiração foi o Amigos da Poli, com quem temos uma relação bastante cooperativa.
Tivemos a felicidade de ter a Andrea em um período sabático, o que permitiu que ela liderasse do ponto de vista executivo. Foi um alinhamento dos astros!
Percebemos que havia muita gente pensando de maneira parecida, com vontade de se reconectar com a FEA e com vontade de retribuir, inclusive com trabalho voluntário. Assim tivemos a oportunidade de criar algo que vai durar muitos anos e já começa a ter impacto na comunidade FEAna.
Houve algum episódio marcante nessa trajetória?
Foram muitos, mas destaco a escolha do nome Sempre FEA. A escolha foi democrática e ao mesmo tempo profissional, que são os dois elementos que permeiam nossa evolução. A agência que contratamos fez sugestões e colhemos sugestões de nomes entre nossos voluntários. Ao todo eram cerca de vinte nomes possíveis. Fizemos a votação e Sempre FEA ganhou. Isso mostra o nosso processo e o sentimento das pessoas em relação à faculdade.
Entre tantas entidades, por que você decidiu participar ativamente da criação da Sempre FEA e manteve um envolvimento tão grande desde então?
A Sempre FEA é a síntese da minha visão de que precisamos devolver para a sociedade e uma oportunidade concreta de fazer isso. Desde que deixei a vida de executivo, a flexibilidade de tempo permite que eu me dedique ao terceiro setor de forma mais intensa. Quando me dedico, o envolvimento é profundo e tive um grupo espetacular ao meu redor. Vi juntamente com meus colegas a chance de criar algo do zero, como criar um filho — com todos os prazeres e dificuldades que isso traz. Foi também uma forma de desenvolver novas relações e conhecer outras pessoas.
De que maneira a Sempre FEA se diferencia e atrai doadores e voluntários?
Desde o início achamos importante ter uma governança robusta que desse protagonismo aos doadores e uma estrutura transparente que desse segurança a quem doasse recursos. Nossa estrutura é parecida com a de uma empresa S.A. O órgão máximo, equivalente à Assembleia de Acionistas, é o grupo de Associados, que indica o Conselho de Administração, que por sua vez elege a Diretoria Executiva. Temos Conselho Fiscal e auditoria independente pela PwC, além de comitês para melhorar nosso funcionamento. O Conselho Consultivo nos deu respaldo porque convidamos pessoas notáveis que passaram pela FEA e mostraram vontade de participar. Nosso primeiro presidente foi Persio Arida e o atual é o Prof. Emérito Eliseu Martins, que dispensam apresentação e nos ajudaram na aproximação com a Reitoria e a Faculdade.
Com essa estrutura sólida, tivemos a felicidade de angariar um volume importante de recursos logo no começo. Fomos capazes de sentar com potenciais doadores e responder às duas perguntas clássicas: O que vão fazer com o dinheiro? Como é o processo decisório? Devido à estrutura robusta, temos boas respostas. Fomos expandindo à medida que mais pessoas foram entrando e essas pessoas que respeitamos viram um selo de qualidade.
Na outra ponta, os alunos e professores submeteram projetos muito bacanas. Como não posso destacar todos, cito o apoio à extensão universitária de uma professora que posteriormente difundiu o conceito de empreendedorismo pela visão de fronteira da Califórnia e a Associação de Negros Feanos (ANFEA), uma entidade muito bem organizada que apoiamos com orgulho há três anos. Apoiamos também iniciativas meritórias de outras entidades de alunos, como o Centro Acadêmico e a Atlética, com as quais muitos ex-alunos têm um forte vínculo.
Como se encerra este seu ciclo à frente do Conselho de Administração da Sempre FEA?
Sinto tranquilidade em deixar a bola com gente muito capaz, que certamente vai melhorar o que já fizemos. Nossa governança estabelece limite de mandatos, o que é importante para a solidez institucional e a perenidade da instituição. Chego ao final do meu segundo mandato com sentimento de orgulho e a perspectiva de que temos muito mais a fazer.
Convido cada aluno e ex-aluno a se aproximar, se envolver, ajudar e propor ideias à Sempre FEA. É muito gratificante pessoalmente e uma forma de devolver à comunidade FEAna a oportunidade que tivemos e temos de fazer parte desta escola.