Convidado pelo CAVC, ex-presidente do BC falou sobre carreira acadêmica e no setor público
Diante de um auditório lotado pelos alunos ingressantes na FEA-USP em 2024, Persio Arida falou sobre como um trabalho acadêmico criou a base teórica para o que seria o Plano Real, responsável por derrotar a hiperinflação no Brasil.
A aula inaugural em 27 de fevereiro, organizada pelo Centro Acadêmico Visconde de Cairu (CAVC) com apoio da Sempre FEA, coincidiu com a semana em que completaram 30 anos da introdução da Unidade Real de Valor (URV), que durante quatro meses funcionou como índice balizador de transição para a nova moeda durante o Plano Real.
Persio compartilhou sua trajetória até a publicação em 1983 de um artigo em parceria com André Lara Resende — posteriormente conhecido como paper Larida — que sugeria interromper a inércia inflacionária por meio da indexação. Uma década depois e já no regime democrático, a proposta orientaria a implementação do Plano Real, com o palestrante à frente do Banco Central.
O real é um “bem da população, este bem público que nós temos até hoje é para mim um enorme orgulho”, disse ele. “É muito gratificante ter tido uma ideia acadêmica e poder implementar a ideia, é uma coisa muito rara de acontecer.”

Após a palestra, Persio respondeu a perguntas da plateia juntamente com a Profa. Dra. Leda Paulani, que recordou seus primeiros contatos com Persio e apontou a importância da teoria da inflação inercial — elaborada a partir do contexto brasileiro e por economistas brasileiros — na fundamentação do Plano Real.
“Para mim, a grande sacada do Plano Real foi criar para cada função teórica da moeda um objeto distinto”, elogiou a professora, listando unidade de compra, meio de troca e reserva de valor. “Foi esse período de quatro meses que permitiu que a assincronia dos reajustes de preços deixasse de existir.”
Além do Plano Real, Leda e Persio debateram sobre algumas questões não resolvidas após a estabilização monetária, como a desindustrialização, a baixa integração da economia brasileira com a economia global e a falta de um projeto nacional de desenvolvimento.
A Presidente do CAVC, Julia Nussenzveig, falou sobre como os alunos são impactados quando escutam de perto um dos idealizadores do Plano Real. “Poder trazer um debate motivador e com conteúdo — nas figuras do Pérsio e da Professora Leda Paulani — para os calouros foi muito importante. Mostra para eles um gostinho do que vão ver pela frente e os inspira sobre os rumos que a FEA pode dar a eles. E não só para os ingressantes, para todos nós também! Foi uma honra poder trazer isso para os calouros!”
Retribuindo a educação pública à sociedade
Durante a aula inaugural, Persio salientou que a Universidade de São Paulo tem orçamento maior do que todo o Estado da Paraíba e que os alunos devem retribuir essa educação à sociedade — seja por meio de doação, atuação em organizações não-governamentais ou trabalho no setor público. Ele próprio intercalou a atuação como professor na FEA-USP e na PUC-Rio com períodos no mercado financeiro e na liderança do Banco Central e do BNDES.
Arida é conselheiro e associado da Sempre FEA, que fez a aproximação dele com a atual gestão do CAVC para viabilizar a aula inaugural. “Ficamos muito felizes em propiciar aos ingressantes de 2024 o contato com um FEAno tão importante para a história econômica brasileira. É o tipo de ação que nos motiva a continuar apoiando a Sempre FEA”, disse Marcelo Risso, Presidente Executivo da associação.
